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Sangue e as drogas

Estava eu me alimentando… o caminho de um pobre coitado havia cruzado com a minha fome, no canto escuro de uma rua sem saída. Todo o cuidado com janelas, câmeras, celulares ou drones foi feito e me ti a boca naquele pescoço. Um, dois, três, quatro goles. Queria mais! Porém, era um sujeito de sorte. Abri os olhos, me contive, lambi a ferida para cicatrizar e soltei seu corpo mole por ali.

Algumas horas depois ele deveria acordar ou ser acordado com uma baita dor de cabeça. Em sua cabeça viria a lembrança do uso de drogas e a minha abordagem, que no máximo o fará pensar que tudo foi uma grande “viagem”. Por outro lado, eu estava alimentado, mas as drogas utilizadas pelo individuo me fizeram divagar em meus pensamentos mais íntimos.

Algo “bateu” assim eu saí do beco e me sentei no banco da moto. Eu estava prestes a ligá-la quando os pensamentos se bagunçaram. Eu ainda tinha o objetivo claro de ir para o meu refúgio, mas lembranças de Suellen, Beth, Julie, Lilian e Claire vieram a mente.

“Por que diabos eu estou pensando nelas?”

“Deixei algo inacabado com alguma?”

Sim, Claire, a última… Aquela, que disse me visitar em breve no Brasil… Um flash e vi a gente em sua cama na Inglaterra. Outro flash e veio a mente aquele fantasma da bruxa, que deu arrepios… Um barulho começou a zumbir. Aos poucos ele ficou mais forte. Outro flash e o maldito som de uma buzina de caminhão de lixo, que passou raspando pela roda dianteira da moto. Acordei.

– Pqp, que brisa, cara! – Falei como se houvesse alguém com quem papear por perto.

Coloquei o capacete e sai acelerando alto o V2 da HD, que ecoou e certamente acordou quem dormia nos prédios ao redor. Para alegria dos Anarchs eu estava agindo conforme eles pregam, no desapego. Sobretudo, para alguém que ainda tenta seguir as leis antigas eu tinha feito muita merda. Ahh o limite entre o certo e o errado, que eu insisto em ultrapassar.

Já no refúgio, encontrei Audny atoa. Ela assistia algum streaming deitada no sofá e quando me viu, se levantou e veio papear.

– Olá sr. Ferdinand, quinta cria de Georg… Calma, calma é brincadeira!

– Ufa, achei que todo o aprendizado que lhe proporcionamos nos últimos meses havia ido pelo ralo abaixo…

Ela me observou, tal qual uma investigadora que fareja algo na cena do crime, cerrou os olhos para focar e disse em seguida:

– Pupilas dilatadas, semblante mais apático ou relaxado… Valeu-se de algo diferenciado?

Sentei-me numa banqueta alta que fica próxima de um balcão. Joguei as costas para trás, depois tirei os tênis e por dois ou três segundos eu ponderei sobre como lhe responder. Mas aquilo que meu doador havia utilizado, removeu os filtros. Tagarelei:

– Simmmm, useiiii… Mas já que está interessada. Anos atrás eu tive uma namorada vampira e ela se chamava Claire…

Devo ter ficado uns 15 ou 20 minutos contando as histórias de todas as vampiras, lobas ou mulheres que passaram pela minha não-vida. Parei apenas quando Pepe surgiu, se interessou pelo papo e começou a fazer caretas atrás de Audny. Aquilo era engraçado, tirou minha atenção e me deu um ataque de risos.

Ambas ficaram me olhando e me julgando… até que eu não sabia mais por que dava risada e fui para o banheiro lavar aa cara. O que aliviou e deu um pouco de foco. Voltei para os sofás e me desculpei:

– Sangue com drogas, evitem isso gente!

Pepe apenas deu risada e Audny, tentou ser séria:

– Quer dizer que você não sabia, ou o fez por querer sr. Ferdinand?

– Tá de zuera ne ruiva… Fi-lo porque qui-lo, como diria Jânio Quadros!

Ela fez cara de que não havia entendido. Então, soltei:

– Fiz porque quis, entende?

– Mas isso não [e perigoso nas noites atuais em meio a tudo o que nos compromete?

Pepe respondeu no meu lugar:

– Ai que está a graça Aud…

– Vocês brasileiros tem um jeito peculiar de tomar decisões.

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